terça-feira, 26 de maio de 2009

A Floresta

As nuvens devoraram o Sol, por último. A floresta parecia-lhe assim serena, mas tenebrosa. As árvores cercavam-na por todos os lados com os seus troncos enrugados pelo tempo e copas pesadamente cansadas. Nesse dia, ela era apenas uma menina assustada. Fugia ofegante e pequena naquela imensidão de gigantes verdes. Os lábios vermelhos carnudos e o longo cabelo negro que trazia solto sobressaíam na pura brancura de todo o seu corpo, coberto por um vestido tão leve e translúcido que todas as curvas se lhe adivinhavam (noutro qualquer dia, seria considerada quase mulher). Corria aos tropeções num desassossego que angustiava! De tempos a tempos, procurava com aqueles olhos negros, brilhantes de pânico mas ainda assim femininos, algo ou alguém que a seguisse, e mesmo que nada visse para além do bosque, não parava para recuperar o fôlego. Foi então que do seu lado esquerdo surgiram 7 figuras negras escondidas por entre os galhos nus de um velho carvalho cinzento. Sentados e cabisbaixos, seguravam nas suas débeis mãos cada um seu instrumento. Tocavam freneticamente violino, violoncelo, guitarra, mas nenhum som saía destes… Nada. Vestidos de negro a rigor, com os olhos esgazeados e lacrimosos, como que em transe celebravam a morte no silêncio quase total da floresta obscura que os circundava. Ela parou de repente, deu dois passos atrás e fez a esperada expressão de surpresa… Algo estava mal. Olhou em volta, não havia mais ninguém. Não fazia qualquer sentido! Mas sentiu-se subitamente atraída pela curiosidade. Deduziu que estava a sonhar de tão cansada que estava, e decidindo que as miragens em nada são perigosas exactamente por não serem reais, aproximou-se. Pé ante pé, seguiu em direcção da orquestra silenciosa. Eles pareceram ignorar a sua presença. Continuou a caminhar, até estar a 5 passos de um deles. Esperou tão silenciosa quanto eles, enquanto os observava impávida e serena. Quase que se esqueceu do que ou de quem fugia ainda há momentos… Até que soou o violoncelo melancólico do rapaz de cabelos ligeiramente despenteados que estava mais próximo. Simultaneamente, também os olhos vazios do rapaz que fixava o chão se deslocaram lentamente na direcção dos dela. Podia acreditar que soltou mesmo um gemido de dor… Mas o olhar tornou-se incompreensivelmente ameaçador… Já não parecia um sonho, era demasiado real. Ela desviou o olhar com um arrepio para os outros 5 homens e uma mulher, que tocava órgão em último plano, exactamente quando o som do violoncelo foi complementado por outros 6 instrumentos de modo a formarem uma música sinistra… Ou até mesmo macabra, perversa! E todos os olhares se concentravam agora nela. Devoravam-na viva com os olhos! A floresta tornou-se inesperadamente mais sombria, transferido agora o cinzento do velho carvalho acima para todo o espaço á sua volta. Plantas e árvores desfaleciam uma a uma… E o concerto prosseguiu sem que ela se pudesse mover, petrificada pelo efeito daquela melodia tão extraordinariamente mágica… As lágrimas já lhe escorriam pelo rosto, era como se a música a tivesse feito perceber o destino que a esperava. Não se conseguia afastar deles. Já era tarde demais.




Diana, nº3, 11ºE

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