sexta-feira, 21 de março de 2008
Dia Mundial da Poesia
Ontem foi o Dia Mundial da Poesia. Ainda pensei que os meus alunos me brindassem com um poema próprio ou alheio, mas não. Passou despercebido. Mas que esta mensagem seja pretexto para enfrentar um poema aí perdido na estante. Sim, aí atrás, num livro ou num manual esquecido. Os jornais trouxeram coisas engraçadas, como o imprevisível Correio da Manhã que pediu a alguns poetas que dedicassem poemas de outros a quem quisessem. E colaboraram Vasco Graça Moura, Manuel Alegre, Alice Vieira, José Jorge Letria. Aqui vai um pedaço (ver imagem).
Cá por mim dei comigo a folhear um dos meus poetas preferidos, Ruy Belo. E escolhi um poema para vós, um poema digno do último dia da Quaresma:
ATROPELAMENTO MORTAL
Nalgum oásis do princípio ele fora
um fugitivo brilho no olhar de deus
a vida havia de lho lembrar muitas vezes
Atravessou as nossas ruas entre gatos
a chuva molhou-lhe as pobres botas cambadas
Teve um banco de jardim teve amigos um deles o sol
Sempre sem o saber procurou deus
Um dia foi campos fora atrás dele perdeu o emprego
na câmara municipal. Teve mãe mas depois
nunca mais foi solução para ninguém
Naquele dia a morte instalou-o
confortavelmente no céu. Lá se foi
com seus modos humanos seus caprichos
e um notório acanhamento em público
(há-de a princípio faltar-lhe à-vontade entre os anjos)
Tinha o nome no registo agora habita
nas planícies ilimitadas de deus
Nas suas costas ainda se derrama
a tarde interrompida
Manhãs e manhãs desfilarão sobre ele
caracóis cobrirão a memória daquele
que foi da sua infância como qualquer de nós
Teve um nome de aqui andou de boca em boca
agora é deus que para sempre o tem na voz
Continuem umas óptimas férias e vão escrevendo!!!
JOAQUIM MARTINS IGREJA
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